Visão contraditória do Espiritismo sobre o Materialismo (Parte 2)



Comparando as duas crenças, Kardec pergunta: “A primeira somente mostra o presente e aniquila toda esperança; a segunda consola e desvenda o vasto campo do futuro. Qual a mais preciosa?” (LE, conclusão, nº 3). 

Como preciosa? Como o Espiritismo poderia desvendar e consolar o campo do futuro? Pessoas, segundo tal doutrina, nascem sem memória, não sabem de onde vem nem para onde vão. Por nascerem sem lembrança acumulam mais débitos ainda, como isso poderia ser consolador e revelador ao mesmo tempo?

“Do desejo nasce a inveja dos que possuem mais e, dessa inveja à vontade de apoderar-se do que a estes pertence, o passo é curto. Que é que o detém? A lei? A lei, porém, não abrange todos os casos. Direis que a consciência, o sentimento do dever. Mas, em que baseais o sentimento do dever? Terá razão de ser esse sentimento, de par com a crença de que tudo se acaba com a vida?” (LE, conclusão, nº 3).

Esse comentário não foi feliz! Desde quando o fato de uma pessoa não ter crença alguma faz dela um ser invejoso? A inveja é um sentimento de infelicidade pela felicidade dos outros. Nasce da comparação. E tal sentimento pode acontecer com qualquer pessoa, independente de religião, filosofia de vida e etc. O que pode barrar tal negatividade é a pessoa tomar conta de sua própria vida e parar de ter a atitude medíocre de se comparar aos outros.   

E é interessante observar que foi aberto um espaço para que uma pessoa materialista por sua inveja possa se “apoderar” do que é do outro, isto é, roubar. Essa é uma declaração injusta, pois o codificador se “esqueceu” que na questão 260 de O Livro dos Espíritos diz que é necessário uma pessoa reencarnar entre ladrões  para lutar contra o instinto do roubo. Dessa forma, novamente, não seria preciso recorrer ao materialismo para explicar esse desvio de conduta: 

 “ Como pode o Espírito desejar nascer entre gente de má vida?

“Forçoso é que seja posto num meio onde possa sofrer a prova que pediu. Pois bem! É necessário que haja analogia. Para lutar contra o instinto do roubo, preciso é que se ache em contacto com gente dada à prática de roubar.”

E mais: 

“Oh! vós, que proclamais semelhantes doutrinas, não sabeis quão grande é o mal que fazeis à sociedade, nem de quantos crimes assumis a responsabilidade! Para o céptico, tal coisa não existe. Só à matéria rende ele homenagem.” (LE, conclusão, nº 3). 

A contradição nessa declaração é que os os céticos não poderiam ser responsabilizados sozinhos pela criminalidade de umas sociedade, haja vista que os crimes, sejam eles de que origem for, podem ser cometidos por quaisquer pessoas. 

Segundo ponto é que o próprio Espiritismo diz que os sofrimentos e mazelas da vida são consequências da punição das outras vidas. A questão 984 do Livro dos Espíritos deixa isso bem claro. Então, em última instância a responsabilidade pelos crimes se deveriam  aos processos reencarnatórios, pois todos pagam na mesma medida o mal cometido em outra vida (LE, nº 764).

Ainda, não  sabemos como alguém que recebeu explicação dos espíritos de que toda pessoa civilizada foi canibal um dia pode falar sobre o “mal à sociedade” que os materialistas poderiam causar. Imaginemos os casos da atualidade de antropofagia como o “canibal de Roterburg” na Alemanha, o cidadão procurava suas vítimas pela internet e quando conseguia matava e comia. Numa dessas deixou a vítima refrigerada por muitos meses e fazia “bifes” diariamente! E  o caso estranhíssimo de Fritz Haarman em 1920?! O homem era açougueiro e fez salsichas com carne humana! Além de comê-las também chegou a vender, tornando assim alguns de seus fregueses “canibais involuntários”. E o mais intrigante: o próprio Kardec soube que ele mesmo devorava pessoas nas “outras vidas”! (LE, nº 787)

Porém, de acordo com a doutrina espírita esse é “apenas” um meio de se chegar à civilidade! Isso quer dizer que os antropófagos modernos não estão “tão” civilizados assim e precisam “melhorar” mais! E o que seria mais preocupante, o ensino de crenças como o canibalismo como meio de progressão ou o materialismo?!

Enfim, não estamos defendendo o Materialismo, mas como podemos notar o ensino espírita sobre esse assunto não é muito coerente. 

Atualizado: Maio/ 2016


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